O uso de Cannabis, popularmente conhecida como maconha, vem aumentando de forma crescente nos últimos tempos. Isso se dá devido à redução de imposições restritivas e a maior facilidade no acesso a essa substância, para fins médicos ou recreativos. Segundo dados da consultoria Kaya Mind, compilados no 3° Anuário da Cannabis Medicinal no Brasil, houve um crescimento de 22% no mercado de Cannabis no Brasil no ano de 2024, quando comparado a 2023, resultando em R$853 milhões movimentados. Por isso, diversos estudos estão sendo publicados abordando os aspectos negativos e positivos do seu consumo. O estudo que vamos abordar nesse artigo trata dos efeitos de longo prazo na função cerebral associada ao uso constante da maconha.
O que é Cannabis?
Cannabis é um gênero de planta originária da Ásia, conhecida por conter compostos químicos chamados cannabinoides, sendo os principais o canabidiol e o tetrahidrocanabidiol(THC). O canabidiol é o principal composto não psicotrópico da Cannabis, ou seja, não causa alterações na consciência. Esse composto possui propriedades anti-inflamatórias, ansiolíticas, analgésicas e anticonvulsionantes, que são muito aproveitadas para fins medicinais. O tetrahidrocanabidiol age como estimulante e é a substância psicoativa da Cannabis, sendo utilizada de forma medicinal ou recreativa.
O que diz o estudo?
O estudo foi liderado por Joshua L. Gowin, PhD, do Departamento de Radiologia do Anschutz Medical Campus da universidade do Colorado, nos Estados Unidos e analisou 1003 adultos com idade média de 28,7 anos. Foi constatado que o uso intenso de Cannabis ao longo da vida foi significativamente associado a uma menor ativação durante a tarefa de memória de trabalho. Isso significa que funções como memória, atenção e capacidade de tomar decisões podem ser afetadas negativamente após longos períodos de consumo da maconha. Essas descobertas identificam “resultados negativos associados ao uso intenso de Cannabis ao longo da vida e à memória de trabalho em jovens adultos saudáveis que podem ser duradouros”, escreveram os autores do estudo.
Além disso, foi observado que as áreas do cérebro mais afetadas foram aquelas com uma densidade maior de receptores endocanabinoides tipo 1(CB1), isso é, proteínas receptoras ativadas por alguns neurotransmissores, entre eles o THC, o composto psicoativo da Cannabis. Essas áreas, após uso constante de maconha, tiveram uma redução na quantidade de receptores CB1, indicando que o intenso consumo dessa droga pode causar adaptação neural. Em outras palavras, esse resultado indica que o organismo tende a reduzir a sensibilidade aos efeitos da Cannabis com o passar do uso, isso porque a diminuição dos receptores CB1 alivia a resposta celular que os compostos químicos da maconha causam.
Efeitos terapêuticos da Cannabis
Apesar do estudo mostrar efeitos negativos relacionados ao uso da maconha, é importante deixar claro que as propriedades terapêuticas da Cannabis são uma ferramenta medicinal com grande potencial de tratamento ou alívio de algumas condições clínicas, como:
- Dor, náuseas, espasticidade, glaucoma e distúrbios do movimento
- Esclerose múltipla e dor neurogênica
- Ansiedade, depressão e insônia
- Epilepsia
- Doença de Parkinson
- AIDS
Diversos estudos têm sido publicados recentemente com o objetivo de entender a aprofundar os conhecimentos sobre os benefícios que essa droga pode trazer a medicina. O uso da Cannabis como medicamento enfrenta barreiras que dificultam a sua plena exploração, como o uso recreativo ilícito da mesma. Em muitos países, apenas indústrias farmacêuticas e produtoras focadas na exploração das propriedades medicinais da maconha podem produzi-la, mas, ainda assim, passam por rigorosos processos de regulamentação. Por isso, a legalização do seu uso gera debates em todo o mundo.
Conclusão
O uso da Cannabis tem crescido mundialmente, tanto para fins medicinais quanto recreativos, impulsionado pela redução de restrições e maior aceitação social. No entanto, o estudo apresentado reforça que o consumo intenso e prolongado pode trazer impactos negativos à função cerebral, especialmente na memória e na capacidade de tomada de decisões.
Apesar desses riscos, a Cannabis também possui reconhecidos benefícios terapêuticos, sendo uma ferramenta importante no tratamento de diversas condições médicas. O desafio atual é encontrar um equilíbrio entre o aproveitamento seguro de seus efeitos medicinais e a conscientização sobre seus possíveis prejuízos à saúde cognitiva, promovendo um uso responsável e bem regulamentado.
Fontes: https://doi.org/10.36607/refacer.v5i1.3360
https://portugues.medscape.com/verartigo/6512280
https://rsdjournal.org/index.php/rsd/article/view/19829/17958